20 agosto 2010

Em nossas mãos

O maior inimigo dos nossos esforços em busca de felicidade é o pensamento de curto prazo

por Luiz Alberto Marinho


No Réveillon, muita gente se despede do ano velho com uma música que termina assim: “que tudo se realize/ no ano que vai nascer/ muito dinheiro no bolso/ saúde para dar e vender”. Aposto que você também já cantou esse refrão ao menos uma vez na vida. A gente nem percebe, mas essa é mais uma demonstração de como a ideia do bem-estar é fortemente associada à riqueza e à saúde em nossa sociedade.

Porém, um amplo estudo desenvolvido pelo Gallup em mais de 150 países sugere que para alcançar a felicidade não basta ter uma conta polpuda no banco e um check-up em dia. A realização verdadeira dependeria, isso sim, da combinação de cinco fatores essenciais: bem-estar social, financeiro, físico, comunitário e profissional. Os resultados dessa pesquisa foram publicados no recente livro Well Being (“Bem-estar”), escrito por Tom Rath e Jim Harter, ainda inédito por aqui.

A conclusão do trabalho, que contou com a participação de pesquisadores, economistas, psicólogos e cientistas sociais, é que o bem-estar é resultado da soma do amor que sentimos pelo que fazemos, da qualidade de nossos relacionamentos, da segurança financeira que desfrutamos, da saúde do nosso corpo e do orgulho que sentimos em função da contribuição que damos à comunidade. Vale lembrar que esses cinco fatores são controláveis, ou seja, são aspectos das nossas vidas que podemos alterar para melhor a qualquer momento.

Em resumo, obter felicidade, embora seja mais complexo do que possa parecer à primeira vista, dependeria simplesmente de cada um de nós – bastaria fazer mais exercícios, dedicar mais tempo à família e aos amigos e gastar nosso dinheiro de maneira mais inteligente, por exemplo. Apesar disso, são poucos os que atingem a felicidade total. A pesquisa do Gallup mostra que, embora 66% dos entrevistados sintam-se realizados em pelo menos um desses aspectos, apenas 7% dos terráqueos sentem-se bem em todos os cinco. Esse seria o motivo pelo qual a maioria de nós experimenta somente momentos de bem-estar.

O estudo identifica ainda o maior inimigo dos nossos esforços em busca da felicidade – o pensamento de curto prazo. Não é difícil entender o porquê. Cada vez que trocamos aquele almoço com velhos amigos por uma reunião de trabalho, adiamos o início do regime e devoramos um pote inteiro de sorvete, desfalcamos a poupança para comprar aquele novo celular, trocamos a perspectiva de carreira em um emprego por um salário maior em outra empresa ou deixamos de comparecer à reunião da escola dos filhos para dormir mais, prejudicamos sem perceber nossos planos de felicidade futura em detrimento de momentos efêmeros de bem-estar imediato.

Luiz Alberto Marinho faz parte da parcela de 7% da população global que é totalmente
feliz. produtointerno@abril.com.br

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