30 novembro 2008

FELICIDADE PERENE?

Dra. Tânia Salgado
[Pós-graduata em Terapia Sistência
de Família e de Casal]

No bojo da família está o casal. Dois seres de sistemas familiares diferenciados, com eventos, ritos, lembranças e marcas específicas das diversas tramas geracionais. Conciliar desejos, sonhos familiares e pessoais, projeções míticas, eis o grande desafio do casal. Cada um com seu mito familiar entrecruzando novos e antigos ritos, na formulação de novas tramas familiares. O casal vai agora conviver, isto é, viver com o outro. Tem-se o fim de um processo e o início de um outro, bem mais complexo por determinar a convivência de dois seres até então, estranhos.

No Brasil, a grande maioria só sai de casa para constituir uma outra família e, pr isso mesmo, uma aura de romantismo envolve o casal e a própria cerimônia de casamento (ritual) favorece tal entendimento. Para as famílias de ambos o casamento tem significados diferentes, pois pode representar a possibilidade de acomodação dos filhos, a perpetuação da família através dos netos e a difícil/fácil interação com um estranho. Tantos as famílias quanto o novo casal, estarão colaborando na formulação de um sintoma para o próprio casal, se compreenderem que ambos terão que ter sucesso profissional, sucesso como pais e sucesso como casal. A obrigatoriedade e o padrão de sucesso criam amarras, espaço fértil para a instabilidade da relação. Torna-se um terreno fértil para os sintomas.

Um primeiro mito já se compõe como elemento complicador na vida um casal, posto que romanticamente a cultura brasileira cria o Mito de Felicidade, num padrão de felicidade perene. Mário de Andrade critica a tradição da família brasileira, arquétipo de uma vida perfeita, eternizada em benefícios e prodígios que parecem perenes. “Felizes para sempre”.

Iniciar uma relação com o peso de uma felicidade perene, imutável, impõe a ambos uma não cordialidade nas diferenças e uma culpabilização. Iara Camarata, no livro “A Escolha do Cônjuge”, acentua que há uma existência de uma memória emocional que compõe o mental do indivíduo e que por isso mesmo, torna-o capacitado a agir sem uma consciência perene de si mesmo.

”Estímulos atuais, fornecidos por interesses e/ou por objetos significativos, que surgem no espaço externo, podem fazer com que se movimentem fontes de energia até então insuspeitas, São evocados sentimentos e fantasias, são provocados impulsos e emoções, aos quais o sujeito pode nem ao menos perceber, mas dos quais sofre sensível influência”. [Camarata, 2002, p. 36]

Passado! Presente! Infância! Família! Lembranças! Há toda uma história ativa e imperceptível que subsidia o ser à ação, sem que ele mesmo possa ter conhecimento pleno deste universo amplo, sistêmico e circular que o torna ser concreto.

Como se processa a escolha? Que força estabelece a atração seletiva entre dois seres na composição do tão almejado título de casal? A escolha do cônjuge se processa, na maioria das vezes, sem que haja consciência dos enlaces geracionais.

Pra terminar esse pequeno texto, vale lembrar Minuchim: O casamento não é algo que se entra, como o estado do Arizona; é algo que se cria. E, às vezes, é algo que se recria.”

Médica-
Título de Especialista em Homeopatia - adulto e criança
Título de Especialista em Oftalmologia
Pós-graduada em Terapia Sistêmica de Família e de casal
Pós-graduada em Dependência Química e outros transtornos compulsivos

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