15 novembro 2008

Um novo conceito de família - Dra. Tânia Salgado


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição há séculos.
E a alegria de todos, e a minha,
Estava certa como uma religião qualquer
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha grande saúde de não perceber coisa nenhuma.
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter esperança que os outros tinham por mim
Quando vim a ter esperança, já não sabia ter esperança.
Álvaro de Campos

O poeta ao expressar sua própria dor de não saber mais ter esperança, descortina o quanto à relação entre os seres humanos tem caráter projetivo, sistêmico e geracional. Revela de como de geração em geração a família cria marcas, sonhos e esperanças que devem ser cumpridas, obedecidas, como garantia de uma crença perpetuada. Cabe ao outro a carga da felicidade de alguns ou de um. Uma felicidade gerada sob o olhar do outro. O Olhar do outro esconde seus sonhos (...) O sentido está guardado no rosto com que...miro. E eu não... miro com meus olhos”. (ALVES, 2002)

O que perpassa os olhares numa família? Que marcas são essas instituídas no seio de uma família ou de um casal? Como se pode compreender o sentido de lealdade que os membros de uma família corroboram até mesmo quando escolhe seu cônjuge? Como os mitos familiares são gerados e geradores de padrão de felicidades?
Atemporalmente perpassam crenças que se transformam na composição do que pode ser chamado de verdades com marcas fechadas em si mesmas. “Felizes para sempre”. Que felicidade é essa? Que padrão de felicidade vai sendo ajustado nos tempos históricos? Que influência cada cultura determina nesse padrão?

A felicidade perene permanece como verdade absoluta, expressa pelo desejo e alimentada por um processo utópico que dificulta e, muitas vezes, imobiliza o indivíduo. Manter um casamento nos padrões tão definidores e permanentes de felicidade, como se fosse algo cotidiano e fruto de um bem-estar também cotidiano, torna-se cada vez mais complexo e difuso.

No mundo pós-moderno o mito felicidade tem escravizado muitos relacionamentos por ter sido projetado e simbolizado em verdades individualistas, de consumo e de imediatismo. Apesar de ter sido desvendo o prazer não como pecado, mito anterior a esse tempo, o desejo tem sido conduzido de forma a considerar ainda a não-temporalidade, a perenidade e a ditadura do prazer.
Raquel Paiva apresenta uma anedota conhecida de muitos e que traduz um importante eixo da sociedade brasileira.

“A anedota não é nova: na selva, dois caçadores desprevenidos vêem-se faca a face com um tigre devorador de homens. A munição terminou, eles estão a pé, calçados com longas e pesadas botas. Um deles, prontamente, começa a descalçar as botas e por seus tênis de corrida, por sorte guardada na mochila. O outro, surpreso, lhe diz que de nada adiantará aquilo, pois jamais conseguirá correr mais do que o tigre. E recebe uma resposta esperta e tranqüila: Eu não pretendo correr mais do que o tigre, basta-me correr mais do que você.” (1994, p. 20)


O correr mais do que o outro, o falar mais que o outro, o estar à frente do outro. Velocidade. Competição. Regras comuns a sociedade neoliberal. A alma humana impôs-se um permanente disputar de espaço exacerbado num individualismo que acaba por negar a própria individualidade. Competitividade/ individualismo, proximidade geográfica /distanciamento afetivo, tornam-se dualidades reais e formuladora de novos Mitos, ou pelo menos de Mitos, como o da Felicidade que sofre mutações históricas no próprio decorrer do tempo.

Nesse universo ativo de redes e de circularidade excessiva de informações está inserida a família, alimentando e sendo alimentada por outros padrões. A família como instituição estática, desmorona-se, o “famulus”, o escravo doméstico, ou a “família”, o conjunto de escravos, perde-se como expressão contemporânea. O casamento na expressão “famulus” vem perdendo-se, fundamentalmente por consistir na geração e manutenção masculina que proporcionava um centro gravitacional e também numa indissolubilidade - princípio fechado em si mesmo. A família quanto substantivo, instituição, tem-se fraturado, fragmentado, mas a instituição se amplia no verbo instituir. Um novo conceito de família é construído e, isso sim, é permanente na História da Humanidade.

[Médica-
Título de Especialista em Homeopatia - adulto e criança

Título de Especialista em Oftalmologia
Pós-graduada em Terapia Sistêmica de Família e de casal
Pós-graduada em Dependência Química e outros transtornos compulsivos]

2 comentários:

  1. Gostei muito da palestra sobre Homeopatia. Sempre quis usar a homeopatia, mas sempre adiava a procura de um profissional. Muito interessante! Muito! Sucesso pra vocês!Agora, decidi!

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  2. Sempre tive simpatia pela homeopatia, até mesmo entender que tudo o que é natural = vida saudável. E nós que vivemos num mundo de correria contra o tempo, estresse total, necessitamos ter um pouco de calmaria para nos refazer disso tudo. E devo te dizer: a homeopatia pode te proporcionar isso e muito mais, basta ACREDITAR, no profissional e no que ele tem a te oferecer através desta medicina milenar e tão peculiar.

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